Uma conversa com Alana Rizzo sobre o YouTube e as eleições brasileiras
26 Set, 2022 – [[read-time]] minutos de leitura
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O YouTube tem como prioridade garantir a segurança da sua comunidade de usuários, ao mesmo tempo que oferece espaço para novas e múltiplas vozes surgirem e incentiva a liberdade de expressão. No contexto eleitoral, conversamos com a Gerente de Políticas Públicas do YouTube no Brasil, Alana Rizzo, que contou mais sobre como essas iniciativas têm sido desenvolvidas para o período eleitoral. Confira a seguir:
Blog do YouTube: Como o YouTube tem se preparado para as eleições de 2022?
Alana Rizzo: Nossas equipes dedicadas e especializadas têm se concentrado na preparação das eleições do Brasil de 2022. O YouTube tem o objetivo de abrigar uma grande diversidade de vozes e de opiniões, garantindo acesso à informação e fortalecendo a construção de um espaço cívico mais plural e democrático. Os desafios são imensos, e temos as eleições do Brasil como prioridade.
Há vozes na plataforma com as quais eu não necessariamente concordo e que outras pessoas podem também não concordar, mas isso não significa que devam ser silenciadas. Por sermos uma plataforma aberta e contarmos com um robusto conjunto de regras que está em constante processo de evolução, entendemos que a manutenção de conteúdo no YouTube deve se basear em nossas políticas.
No YouTube, todos os conteúdos precisam seguir as Diretrizes de Comunidade. Elaboramos um sólido conjunto de políticas e sistemas — incluindo a Política de Integridade Eleitoral e Supressão de Eleitores, — para dar visibilidade a conteúdo confiável, reduzir a disseminação de informações enganosas e, ao mesmo tempo, permitir a realização do debate político.
Entendemos o YouTube como uma comunidade que reúne criadores de conteúdo, usuários e marcas, e nosso trabalho para manter esse espaço adequado para todos é orientado por quatro princípios, os quais denominamos 4 Rs de Responsabilidade. Removemos conteúdos que violam nossas políticas o mais rápido possível; reduzimos a disseminação de conteúdo que está no limite da conformidade com nossas políticas; recomendamos vozes confiáveis e conteúdos de jornalismo profissional quando as pessoas buscam notícias e informações e recompensamos artistas e criadores qualificados e confiáveis.
Nossas regras são aplicadas a todo momento, constantemente atualizadas, e também contamos com recomendações claras e abertas ao público sobre conteúdo ligado a eleições. Não permitimos, por exemplo, conteúdo que tenha o objetivo de enganar eleitores sobre a hora, o local, os meios ou requisitos necessários para votar ou informações falsas que possam fazer as pessoas desistirem de ir às urnas. Isso inclui alegações falsas de que as urnas eletrônicas brasileiras foram hackeadas nas eleições presidenciais de 2014 e 2018 e de que os votos foram adulterados.
BYT: Por que a Política de Integridade Eleitoral não contempla 2022?
AR: O YouTube constrói suas políticas com base em fatos, e estamos atentos ao que pode apresentar algum tipo de ameaça no mundo real. Para isso, contamos com fontes de informação confiáveis — como o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), no Brasil, por exemplo — para embasar essas decisões a partir da análise desses acontecimentos. No caso das políticas de integridade eleitoral, atualizamos essas regras após a certificação dos resultados pelas autoridades competentes. Fizemos isso nas eleições de 2020 nos Estados Unidos e na Alemanha em 2021. No Brasil, aplicamos a regra para as eleições de 2018 e 2014, que já foram validadas pelo TSE.
O YouTube conta com uma equipe global de dezenas de milhares de pessoas, responsáveis por moderação de conteúdo, uma área na qual temos focado investimento. ”
BYT: Como funciona o processo de remoção de um conteúdo? Há avaliadores que falam português e entendem nosso contexto local? Qual a equipe responsável por avaliar se determinado conteúdo viola as regras da comunidade?
AR: O YouTube conta com uma equipe global de dezenas de milhares de pessoas, responsáveis por moderação de conteúdo, uma área na qual temos focado investimento. Esse time trabalha em escala de atua 24 horas por dia, 7 dias por semana, em diferentes fusos horários e com fluência em diversos idiomas, incluindo a língua portuguesa e o português do Brasil.
Embora os revisores humanos sejam cruciais para analisar o contexto de um vídeo ou comentário, o aprendizado de máquina é o que nos permite aplicar nossas políticas em escala. Nossa tecnologia é capaz de detectar padrões nas decisões de moderadores humanos para identificar com cada vez mais precisão material que viole nossas regras do YouTube. Vale lembrar que as políticas de nossa plataforma estão em constante desenvolvimento e atualização, de modo que o conteúdo pode passar por novas revisões ao longo do tempo para aplicação de políticas mais recentes.
O YouTube também mantém o Programa Revisor Confiável, uma rede de ONGs e instituições governamentais que apoiam nosso trabalho de revisão de conteúdo, Essas organizações são particularmente eficientes em informar ao YouTube sobre conteúdo que potencialmente viole as nossas políticas. Todos os conteúdos denunciados por essa rede são revisados por nossas equipes.
BYT: Como funciona o sistema de recomendações do YouTube?
AR: Nosso sistema de recomendações busca ajudar as pessoas a encontrarem vídeos que lhes ofereçam algo útil e interessante. Nosso sistema “peneira” bilhões de vídeos para recomendar conteúdo baseado nos interesses específicos de cada pessoa, e para oferecer essa curadoria sob medida, nosso sistema de recomendações não se baseia em uma fórmula pronta com instruções exatas sobre o que fazer. Ele está em constante evolução, aprende diariamente com mais de 80 bilhões de pedacinhos de informação – que chamamos de “sinais”. É preciso entender todos os dados que alimentam o sistema. Juntos, vários tipos de sinais ajudam a dizer ao sistema o que você gosta de assistir - estes sinais incluem cliques, tempo assistindo, respostas a pesquisas, compartilhamentos, números de “gostei” e “não gostei”.
Também é importante pontuar que publicidade não influencia nas recomendações.
Desde 2019, o nosso sistema de recomendação vem passando por uma série de atualizações para reduzir o conteúdo que está no limite das diretrizes - atualmente, o consumo de conteúdo limítrofe que chega por meio das recomendações é inferior a 0,5%. O YouTube também oferece aos espectadores uma variedade de ferramentas para melhorar a experiência deles na plataforma e decidir quais informações pessoais serão usadas para influenciar as recomendações.
BYT: Como funciona o diálogo entre o YouTube e o TSE?
AR: Desde 2014, o Google mantém uma parceria com a Justiça Eleitoral visando combater o fenômeno da desinformação online no contexto das eleições brasileiras. Essa colaboração é primordial em nosso trabalho no contexto eleitoral e se renova para as eleições de 2022. O Programa de Combate à Desinformação do TSE é um espaço importante de diálogo entre as plataformas, a sociedade civil e as autoridades brasileiras diante do complexo problema da desinformação. A nossa parceria prevê ações em diferentes frentes, como capacitação de servidores da Justiça Eleitoral sobre boas práticas e políticas da plataforma, apoio na divulgação de informações oficiais do TSE e um canal de comunicação.
Neste ano, já realizamos treinamentos com as equipes do TSE e dos TREs sobre diversos temas e seguimos em diálogo para demais novidades que virão.
Ainda nesse contexto, o YouTube lançou diversos painéis de destaque que oferecem mais informação quando o usuário procura no YouTube por temas relacionados às eleições. No início de setembro, por exemplo, passamos a exibir o painel de alerta de integridade eleitoral nos resultados de busca ou em um vídeo relacionado às eleições no Brasil e que direciona o usuário para informações oficiais do TSE. Também estamos mostrando um painel sobre “como votar” e outros com “informações de candidatos”. Logo após o resultado das eleições, exibiremos também o painel de “resultados eleitorais”.
Este ano, também já havíamos disponibilizado o painel sobre urnas eletrônicas, que reforça a segurança do nosso sistema eleitoral e que apresenta um link para informações oficiais do TSE, e o painel sobre como tirar o título de eleitor, exibido para usuários durante o período de regularização/emissão do título. Os painéis informativos ampliam o acesso a informações de fontes confiáveis e já contemplam outros temas sensíveis, como a COVID-19.
Nossas regras são aplicadas de forma consistente em toda a plataforma independentemente de quem seja o criador do conteúdo.”
BYT: Além do trabalho em colaboração com o TSE, o YouTube possui outras parcerias para combater a desinformação?
AR: Estamos em diálogo constante com diversos atores envolvidos no combate à desinformação e sabemos da importância de buscarmos respostas rápidas e multisetoriais. É de suma importância que as pessoas possam obter informações de credibilidade no YouTube, especialmente quando estiverem procurando por notícias.
Ao longo dos anos, o YouTube tem apoiado o jornalismo de diferentes formas, fomentando a produção de notícias na plataforma para garantir um ecossistema equilibrado e que dê espaço para variadas vozes. Nossa estratégia de combate à desinformação inclui o apoio à produção jornalística e ao trabalho das agências de checagem de fatos por meio de parcerias como algumas realizadas em 2022.
Em abril deste ano, por exemplo, o YouTube firmou uma parceria com o International Center For Journalists (ICFJ) e lançou o projeto Jogo Limpo, um fundo de apoio a iniciativas de combate à desinformação voltado ao trabalho de checagem de fatos realizado por jornalistas e meios de comunicação. O objetivo da iniciativa é o desenvolvimento de conteúdo, ferramentas e projetos de alfabetização midiática no contexto das eleições de 2022.
Em junho, o YouTube anunciou o lançamento do curso Jornalismo contra-hegemônico: reflexões para um novo presente, criado e apresentado pela filósofa, pesquisadora e escritora Djamila Ribeiro. A iniciativa ainda contou com o apoio da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) e da plataforma Feminismos Plurais.
O YouTube também é parceiro do portal JOTA no projeto Nosso Papo Reto, iniciativa de fomento ao diálogo entre pessoas e com visões políticas distintas. Apoiado em uma pesquisa desenvolvida pelo Instituto Brasileiro de Pesquisa e Análise de Dados (IBPAD), o projeto procura mostrar que a população brasileira compartilha de muitas preocupações em comum, mas cujo debate é prejudicado pela polarização política atual. Também em parceria com o JOTA, lançamos o Podcast “Paredes São de Vidro”, que narra os bastidores da origem das urnas eletrônicas.
Em parceria com a Vibra (empresa spin-off de Tecnologia e estrategista digital do Grupo Bandeirantes), realizamos em agosto o primeiro debate presidencial de 2022. Liderado pelo pool de veículos composto por Band, TV Cultura, Folha de São Paulo e UOL, a transmissão bateu recorde de audiência no YouTube, com o pico de views simultâneos de 1 milhão e 800 mil espectadores, ultrapassando as 381 mil visualizações simultâneas do debate presidencial de 2018.
Nossa iniciativa mais recente tem como parceiros o jornal Folha de S. Paulo, a premiada jornalista, comentarista e escritora Patrícia Campos Mello e o ITS Rio. Juntos, lançaremos o podcast "Eleições na Internet", que discutirá como as redes sociais, aplicativos de mensagem e novas tecnologias têm influenciado o debate político em 2022.
BYT: O YouTube aplica tratamento diferenciado para políticos e partidos? Como funciona a monetização?
AR: Não, nossas regras são aplicadas de forma consistente em toda a plataforma independentemente de quem seja o criador do conteúdo. Quando um material que viola as diretrizes da comunidade é identificado, o usuário é notificado de acordo com o nosso sistema de alerta e avisos. Violações repetidas ou uma violação grave pode levar um canal a ser encerrado.
Em julho lançamos o Relatório de Transparência de Anúncios Políticos, que tem o objetivo de oferecer aos nossos usuários um nível sem precedentes de informações a respeito da publicidade política em nossas plataformas, como a identificação do anunciante, investimentos e critérios de segmentação. O lançamento do Relatório no Brasil reforça nosso compromisso de apoiar o processo democrático.
Para gerar receita no YouTube, o canal precisa ser aceito no Programa de Parcerias do YouTube e seguir todo o conjunto de políticas da plataforma. Elas incluem as diretrizes da comunidade, os termos de serviço, as políticas de direitos autorais do YouTube, as diretrizes de conteúdo adequado para publicidade e as políticas do programa Google AdSense