Projeto de lei das "fake news" e o impacto na comunidade de criadores
04 Abr, 2022 – [[read-time]] minutos de leitura
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Diariamente, bilhões de pessoas acessam o YouTube para saber mais sobre o conteúdo que admiram. O YouTube abriu as portas para que milhões de criadores prosperassem, em especial no Brasil, onde a comunidade criativa floresce. A base dessa estrutura é conectar pessoas ao conteúdo que amam, protegendo todos daqueles que são nocivos e permitindo que os criadores sejam remunerados e construam seus negócios. Com o Projeto de Lei 2630/2020, conhecido como "Lei das Fake News", esse ecossistema pode estar ameaçado. No YouTube, compartilhamos do objetivo original da legislação – combater a desinformação – mas a versão mais recente do texto do projeto de lei não impedirá as notícias falsas. Na verdade, como está escrito hoje, este projeto de lei pode resultar em menos dinheiro para os criadores brasileiros, mais desinformação sendo gerada e uma capacidade reduzida de aplicar nossas políticas igualmente a todos.
Se as regras atuais do projeto de lei entrarem em vigor, todos os canais que fazem “conteúdo jornalístico”, um conceito que não está claramente definido no projeto, seriam elegíveis para monetização.”
Os criadores sabem melhor do que ninguém que ganhar dinheiro no YouTube não é uma possibilidade para todos na plataforma. Mantemos um alto padrão de entrada no Programa de Parcerias do YouTube (YPP). Isso nos permite recompensar todas as pessoas inteligentes e criativas por trás dos vídeos que amamos, enquanto inibimos aqueles que procuram abusar de nossa plataforma. E estamos entusiasmados em saber que editores de notícias e jornalistas independentes do Brasil encontram no YPP uma forma positiva de contribuir para um ecossistema de notícias sustentável. Desde 2007, compartilhamos a maior parte da receita gerada pelo YPP com os criadores, incluindo empresas jornalísticas de todo o mundo.
Como resultado, há um rico ecossistema de conteúdo de notícias brasileiras no YouTube. Não importa se você é uma grande organização de notícias ou um próspero jornalista independente, o YouTube pode trazer novos públicos para suas reportagens e aumentar e diversificar sua receita. Se as regras atuais do projeto de lei entrarem em vigor, todos os canais que fazem “conteúdo jornalístico”, um conceito que não está claramente definido no projeto, seriam elegíveis para monetização, mesmo que não tenham atendido aos padrões que estabelecemos para o YPP. Além disso, as grandes empresas de notícias poderiam exigir um acordo de compartilhamento de receita diferente daquele que oferecemos aos criadores do YPP, incluindo criadores de notícias independentes. Queremos que todos os criadores possam ganhar sua parte dentro das mesmas regras, não importa quão grandes sejam ou há quanto tempo estejam produzindo conteúdo.
Qualquer pessoa pode enviar vídeos ao YouTube, desde que siga nossos Termos de Serviço e Diretrizes da Comunidade. As mesmas políticas se aplicam a todos, seja você um político ou uma celebridade. Isso passou a acontecer ao longo dos anos, pois vimos um aumento de figuras proeminentes em todo o mundo espalhando desinformação prejudicial por meio do YouTube, inclusive no Brasil. Já removemos vídeos de canais do YouTube pertencentes a políticos brasileiros, mais recentemente por desinformação sobre a COVID-19. Com o Projeto de Lei das Fake News, no entanto, os membros do Poder Legislativo no Brasil teriam um passe livre. Isso impediria nossa prática de responsabilizar todos os criadores pelo mesmo conjunto de políticas. Vídeos de legisladores protegidos que, de outra forma, removeríamos – incluindo violência gráfica, golpes, assédio ou certas informações erradas sobre as eleições – permaneceriam na plataforma. Preservar uma plataforma aberta é mais importante do que nunca. Mas proteger nossos espectadores, criadores e todo o ecossistema do YouTube de conteúdo nocivo é o que nos permite preservar a abertura e o senso de comunidade que todos amamos.
Nossos sistemas recebem mais de 80 bilhões de informações, chamadas de 'sinais', para tomar decisões continuamente sobre qual conteúdo mostrar e não mostrar às pessoas. O projeto de lei de Fake News não leva em conta essa escala e complexidade.”
Nosso sistema de recomendação foi desenvolvido para conectar as pessoas aos vídeos que elas desejam assistir e ao mesmo tempo limitar a disseminação de desinformação. Para fazer isso, nossos sistemas recebem mais de 80 bilhões de informações, chamadas de 'sinais', para tomar decisões continuamente sobre qual conteúdo mostrar e não mostrar às pessoas. O projeto de lei de Fake News não leva em conta essa escala e complexidade. Seríamos obrigados a notificar um criador toda vez que nossos sistemas “rebaixarem” seu conteúdo por qualquer motivo. Digamos que um espectador dê um sinal de que não está interessado em um tutorial de piano, seja clicando ou preenchendo uma pesquisa dizendo que o vídeo não foi satisfatório para ele. Nosso sistema provavelmente não recomendaria vídeos de piano semelhantes. Isso levaria à necessidade de informar outros canais de aprendizagem de piano sobre esta ação. E então multiplique isso para milhões de canais e as inúmeras decisões tomadas a cada segundo ao redor do mundo. Isso não apenas resultará em criadores de conteúdo recebendo bilhões de notificações todos os dias, mas atores mal-intencionados que desejam contornar nossas políticas podem usar esse conhecimento para encontrar maneiras de manipular nossos sistemas. Fornecer a eles um manual de instruções provavelmente resultará em um aumento na desinformação no YouTube – exatamente o oposto do que o projeto de lei está tentando alcançar
Queremos investir em políticas e produtos que tenham um impacto real de conter a disseminação de desinformação e relatar métricas que realmente forneçam uma melhor compreensão social de como nossos sistemas funcionam.”
Compartilhamos dos mesmos objetivos dos legisladores brasileiros de combater a desinformação e aumentar a transparência. No entanto, queremos investir em políticas e produtos que tenham um impacto real de conter a disseminação de desinformação e relatar métricas que realmente forneçam uma melhor compreensão social de como nossos sistemas funcionam. Investimos muito em políticas robustas e em pessoas para nos ajudar a remover conteúdo ruim, e divulgamos publicamente números como nossa Taxa de visualização de conteúdo com violações, a porcentagem de visualizações provenientes de vídeos que não deveriam estar em nossa plataforma.
Da forma como está escrita, o projeto não combate notícias falsas. Na verdade ele faz o oposto, dificultando nossa capacidade de combater a desinformação e criando um jogo de campo desigual quando se trata de pagar aos criadores e aplicar nossas políticas. Isso tira o sustento dos criadores brasileiros, que trabalham duro para ganhar o direito de estar no YPP e ganhar dinheiro com toda a sua criatividade no YouTube.
Como temos feito desde que o projeto de lei foi apresentado em 2020, continuamos trabalhando de perto com os parlamentares brasileiros para encontrar uma legislação ponderada, que realmente aborde a questão global da desinformação e que permita que a nova classe de empreendedores criativos continue a prosperar.