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A nova cara da mobilização cívica

Influência crescente de criadores de conteúdo traz mais vozes ao debate público, fortalecendo a troca entre governos, empresas e sociedade

No fim de fevereiro, a ministra da Saúde, Nísia Trindade, abriu sua agenda para um compromisso pouco usual. Na companhia de youtubers como a terapeuta ocupacional Mari Fulfaro, do canal Manual do Mundo, do jornalista Edson Castro, do Manual do Homem Moderno, e do médico Drauzio Varella, a ministra gravou vídeos para uma campanha cujo objetivo é conscientizar os brasileiros sobre o combate à dengue e estimular a vacinação infantil.

A ação com criadores acontece num período crítico. Só neste ano, o Brasil já ultrapassou a marca de 2 milhões de casos de dengue, com pelo menos 680 mortes confirmadas. Com novos números confirmados a cada dia, a dengue é a preocupação do momento – mas está longe de ser a única.

Apesar de dados preliminares indicarem aumento no índice de aplicação de pelo menos oito imunizantes infantis em 2023 em relação a 2022, o Brasil enfrenta dificuldades para bater metas de cobertura de vacinas como a BCG e contra a hepatite B e a poliomielite há pelo menos sete anos.

Um dos grandes desafios das autoridades diante de situações como essas é garantir que a informação correta chegue ao grande público, de forma a mobilizá-lo. É justamente aí que se destacam os criadores de conteúdo, que usam as plataformas digitais para despertar a consciência coletiva e propor um chamado à ação. Para amplificar suas vozes, o YouTube se aliou ao ministério para fazer a campanha chegar a mais gente. Nas últimas semanas, o alerta foi dado até em transmissões de jogos do campeonato Paulista de futebol no canal Cazé TV, atingindo uma audiência superior a 1,3 milhões de pessoas.

O poder de mobilização dos criadores não é novidade. Seu papel se tornou central na nova lógica da mobilização cívica, que se transformou profundamente à medida que a tecnologia passou a fazer parte das nossas vidas. Segundo Henry Jenkins, diretor do Programa de Estudos de Mídia Comparada do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), a criação de conteúdo é uma das maneiras de construir cultura participativa – assim como fazer parte de uma comunidade online ou influenciar a circulação de determinado conteúdo.

Os criadores são parte dessa dinâmica – e é por isso que aproveitar seu potencial de ser uma força para o bem é primordial nos dias de hoje. Ao longo dos anos, eles conquistaram uma reputação. Além de entreter e nos fazer sentir parte de uma comunidade, os criadores também chamam atenção para problemas reais e informam suas audiências de um jeito único.

Pesquisa recente do Instituto Reuters para o Estudo do Jornalismo aponta que as pessoas prestam tanta – ou mais – atenção a criadores e influenciadores do que a jornalistas, com variações entre as diferentes plataformas. No YouTube, por exemplo, 45% da audiência dizem prestar atenção ao que dizem os influenciadores – e 42% acompanham jornalistas.

Com grandes poderes vêm grandes responsabilidades – tanto para criadores como para plataformas. Do lado de quem cria, é importante o senso de responsabilidade sobre o que falar e como. Do lado do YouTube, o compromisso com informação de qualidade é prioritário – por isso removemos conteúdos, ampliamos o acesso a informações oficiais, muitas vezes conectando usuários com sites fora da plataforma (como do Ministério da Saúde ou da Organização Mundial da Saúde) e remuneramos criadores responsáveis.

Só conseguimos nos adaptar rapidamente aos desafios do mundo moderno porque estamos em diálogo constante com o poder público, com a sociedade civil e com a própria comunidade de criadores. Nenhuma plataforma pode progredir sozinha.”

Isso é ainda mais importante na área de saúde, tal como aprendemos durante a pandemia de Covid-19. Recentemente, atualizamos as regras para impedir a disseminação de informações enganosas sobre saúde e mobilizamos centenas de criadores em lives e campanhas como #EuMeCuido para conscientizar a população a aderir aos cuidados básicos de prevenção, atingindo milhões de pessoas através de suas audiências.

Só conseguimos nos adaptar rapidamente aos desafios do mundo moderno porque estamos em diálogo constante com o poder público, com a sociedade civil e com a própria comunidade de criadores. Nenhuma plataforma pode progredir sozinha, e a responsabilidade ​precisa ser um compromisso coletivo. Assim como os criadores desenvolvem uma relação de confiança com suas audiências, nós também criamos um ambiente colaborativo e de escuta ativa dos diversos atores que compõem a sociedade. Só assim é possível aproveitar o potencial positivo dos criadores mantendo um espaço seguro, democrático e de incentivo à criatividade e à disseminação de informação de qualidade.