Koval's Corner: Um criador de conteúdo do lado de dentro
03 Ago, 2020 – [[read-time]] minutos de leitura
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Quase caí de costas. Meu rosto ficou vermelho como um pimentão ou perdeu toda a cor. Não sei direito qual dos dois.”
Doze anos atrás, comecei a produzir vídeos para o YouTube, um dos vários trabalhos que eu fazia na época, incluindo dar aulas como substituto e fazer filmagens como autônomo.
Fui cameraman de uma emissora de notícias local uma vez e trabalhei com um repórter para entrevistar pessoas na rua. Ele era a estrela, e eu era o típico técnico de vídeo: meio escondido atrás de uma câmera grande e de um boné descolorido pelo sol.
Já havíamos entrevistado uma dúzia de pessoas quando uma mulher com 20 e poucos anos apareceu. O repórter lançou o sorriso característico dele e começou a fazer perguntas, balançando o microfone para a frente e para trás entre eles.
Em um certo momento, ela encarou a câmera e a mim e parou de falar no meio da resposta. Ela desviou brevemente o olhar e, então, voltou a me encarar.
Um longo e bizarro momento passou. O repórter se aproximou, sem entender o que estava acontecendo. Olhei de volta para ela com curiosidade. Até que, finalmente, a mulher falou.
“Matt Koval?”
Congelei.
A mulher ficou sem ar. Os olhos dela se iluminaram.
"Você é o… Matt Koval do YouTube?!”
Quase caí de costas. Meu rosto ficou vermelho como um pimentão ou perdeu toda a cor. Não sei direito qual dos dois. Confuso, o repórter olhou para mim, depois olhou de volta para ela.
“Você conhece o cara da câmera?”
"Claro!", ela respondeu. “Você não assistiu os vídeos dele no YouTube?”
Ele não tinha assistido. Mas agora me olhava como se eu tivesse muita coisa para explicar. Também parecia um pouco irritado por eu ter ofuscado a fama dele.
Foi nesse momento que comecei a perceber que os números que eu via no YouTube não eram só números. Eles representavam seres humanos de verdade assistindo o que eu gravei na minha sala de jantar.
Anos depois, meu número de inscritos não passava de 115 mil. Eu definitivamente não era o mais bem-sucedido dos criadores de conteúdo. Mas aquilo foi só o começo de algo que tem sido uma das jornadas mais inusitadas de um criador de conteúdo na história do YouTube. Naquela época, enquanto gravava desajeitadamente meus primeiros vlogs, eu não imaginava que um dia estaria trabalhando dentro do YouTube e falando com executivos sobre decisões da empresa como o primeiro intermediário com os criadores de conteúdo da plataforma.
Claro, assim como em todos os históricos de carreira, existem muitos anos e detalhes no meio dessa história. No meu caso, foram quatro eventos principais que tornaram essa jornada possível:
O primeiro foi ter me apaixonado por produção audiovisual aos 14 anos, antes de existirem o YouTube e a Internet. Equipado com a câmera enorme do meu padrasto, eu era conhecido como o "Spielberg do bairro" (e a única criança das redondezas que gravava vídeos).
O segundo evento foi ter meu primeiro vídeo de sucesso no YouTube, que foi quando firmei minha crença no poder da plataforma para alcançar um público. Depois de anos escrevendo roteiros e ralando no cenário cinematográfico de Los Angeles, eu fiquei perplexo ao ver que meu vídeo bobo já havia sido assistido por mais de um milhão de pessoas. Isso abalou totalmente a forma que eu enxergava o mundo do entretenimento.
O terceiro evento foi ter sido selecionado como um dos 25 vencedores da primeira edição do concurso NextUp em 2011. Essa foi a primeira vez que conversei com os funcionários do Google e percebi que eram humanos de verdade por trás das cortinas. Como notamos depois, tínhamos muito em comum. Eu compartilhava da mesma visão ampla do potencial da plataforma, além do meu canal.
O quarto evento foi quando o Google me contratou oficialmente. O processo da entrevista durou três meses, enquanto meu histórico era conferido e examinado, assim como minhas referências. Acho que a maior dúvida era se um criador de vídeos criativo tinha o que era necessário para ser um funcionário corporativo. De alguma forma, consegui convencer os avaliadores.
Acho que a maior lição que tenho para compartilhar é algo que falo na empresa o tempo inteiro. Os funcionários do YouTube são pessoas extremamente inteligentes que se esforçam muito para oferecer o melhor serviço aos criadores de conteúdo. Todos se importam de verdade. Mas a grande maioria deles não viveu os altos e baixos de ter um canal, a agitação criada por um vídeo que viralizou, a pontada que um comentário grosseiro causa e a instabilidade da receita mensal.
Por outro lado, grande parte dos criadores também não trabalhou em uma empresa global de tecnologia que tem muitas responsabilidades a cumprir com os usuários, anunciantes e regulamentos do governo. Muitas vezes eles não notam a dificuldade que é cuidar de milhões de canais, quando comparado com o trabalho que dá cuidar de apenas um.
E é aí que eu entro: meu trabalho é ajudar os funcionários a entender melhor a experiência dos criadores e, ao mesmo tempo, ajudar os criadores a entender melhor o motivo por trás de algumas decisões. Também estou tentando me comunicar por maneiras mais curtas e simples, com vídeos como este aqui, que foi postado diretamente no Twitter.
Por último, não quero perder minha conexão com a experiência dos criadores de conteúdo. Falo com eles frequentemente para ouvir feedback e, algumas vezes, faço consultoria para canais. Suas ideias e feedback são sempre bem-vindos, especialmente agora que ainda estou descobrindo como lidar com esse novo trabalho.