Liberdade de expressão e responsabilidade corporativa podem coexistir no universo digital

Como CEO do YouTube, todos os dias enfrento questões relacionadas à liberdade de expressão e responsabilidade. As empresas, a sociedade e os governos estão passando por desafios sem precedentes, desvendando questões complicadas e determinando qual é o discurso aceitável no século XXI. Legisladores do mundo todo estão apresentando propostas regulatórias: alguns dizem que as plataformas são permissivas com o tipo de conteúdo que está disponível, enquanto outros afirmam que há muitas remoções. No YouTube, trabalhamos para proteger nossa comunidade e, ao mesmo tempo, permitir que surjam vozes novas e diversas. Existem três princípios que deveriam guiar as discussões sobre a regulamentação do discurso online.

Primeiro princípio: o acesso livre à Internet transformou a sociedade de maneiras inacreditáveis. Os líderes do Grupo dos Sete reafirmaram o valor fundamental dessa liberdade em um comunicado recente. O YouTube disponibiliza informações a todos que têm uma conexão de Internet. Pessoas do mundo inteiro acessam a plataforma para encontrar notícias, aprender e criar comunidades. No entanto, criar um espaço aberto para todos significa que, às vezes, alguns usuários passarão dos limites.

O YouTube sempre teve diretrizes da comunidade que definem as regras do jogo. Removemos conteúdo que pode causar danos reais, como extremismo violento, violação de direitos autorais e pegadinhas perigosas. Algumas das nossas decisões são controversas, mas aplicamos nossas políticas igualmente, sem considerar quem postou o conteúdo ou qual é o ponto de vista político presente nele. Ao mesmo tempo, compreendemos a complexidade da Internet. Remover tudo o que é controverso pode silenciar vozes e ideias relevantes.

Segundo princípio: governos democráticos precisam oferecer diretrizes claras às empresas sobre discurso ilegal. Isso nos ajuda a remover esse tipo de conteúdo com mais rapidez e eficiência. Essas leis precisam ser fundamentadas em normas internacionais e equilibrar o direito à informação e os riscos de prejuízo. As regras que regem a internet são atualizadas com frequência, desde os direitos autorais até as eleições e campanhas políticas. O YouTube está sempre aberto para trabalhar com os governos e lidar com essas e outras questões.

No entanto, nem tudo relacionado à moderação de conteúdo será supervisionado pelas autoridades governamentais, e é por isso que acredito no terceiro princípio: as empresas devem ter flexibilidade para desenvolver práticas responsáveis para lidar com discurso que, embora seja permitido, possa causar danos. Alguns legisladores têm debatido qual tipo de discurso legal deveria ser permitido nas plataformas, mas regras restritas podem ter sérias consequências.

Digamos que as autoridades decidam controlar qualquer conteúdo que considerem explícito. Isso pode levar à remoção de imagens de protesto, jogos e vídeos de música. As evidências encontradas no YouTube ajudaram promotores na Suécia a responsabilizar o regime sírio e os rebeldes por crimes de guerra. E se esses vídeos tivessem sido removidos por serem considerados muito explícitos?

As empresas também precisam ser capazes de agir rapidamente quando novas ameaças surgem. No último ano, quando as torres de telefonia celular no Reino Unido foram incendiadas após surgir uma teoria da conspiração que culpava as redes 5G pela COVID-19, atualizamos nossas políticas em um único dia para remover esse tipo de conteúdo nocivo. Nossa comunidade depende das nossas ações, e precisamos continuar sendo capazes de agir rapidamente e com alguma autonomia.

Algumas pessoas dizem que o governo deveria orientar o discurso online, mas precisamos de flexibilidade para encontrar o equilíbrio entre liberdade e responsabilidade. Quando erramos ou tomamos uma posição muito radical, nossa empresa e milhões de pequenas empresas de criadores de conteúdo no YouTube são prejudicadas. Já aconteceu de marcas pararem de investir em anúncios no YouTube quando a publicidade deles foi exibida em conteúdo problemático.

Trabalhamos duro todos os dias para sermos responsáveis, e nossos anunciantes, usuários e criadores dependem disso. Estamos trabalhando com a Global Alliance for Responsible Media (um movimento por uma mídia responsável) com o objetivo de criar definições para a indústria relacionadas a conteúdo não adequado para publicidade. Além disso, somos membros fundadores do Global Internet Forum to Counter Terrorism, uma organização que trabalha para impedir que extremistas violentos tirem proveito das plataformas digitais. Também disponibilizamos aos usuários ferramentas e controles para administrarem a experiência deles no YouTube.

Gerenciar nossa plataforma com responsabilidade é bom para os negócios. Além disso, estamos trabalhando para oferecer mais transparência sobre nossos esforços. Recentemente, apresentamos a taxa de visualização de conteúdo que viola políticas, que estima a frequência com que espectadores assistem conteúdo que viola nossas políticas. Essa taxa caiu mais de 70% em comparação com 2017, boa parte disso foi graças aos investimentos em inteligência de máquina. Essa tecnologia nos ajuda a sinalizar um possível conteúdo impróprio. No primeiro trimestre, a taxa estava entre 0,16% e 0,18%. Isso significa que, a cada 10 mil visualizações no YouTube, 16 a 18 foram de vídeos que violavam nossas diretrizes.

As expectativas são grandes em relação à atualização da nossa abordagem sobre liberdade de expressão online. O excesso de regulamentação sobre conteúdo poderia inibir a liberdade e impedir o surgimento de uma nova grande ideia ou descoberta. Estou confiante de que existirá uma maneira de manter nossa comunidade segura e, ao mesmo tempo, permitir a liberdade de expressão.